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Relatório dos EUA não identifica associação entre fluoretação da água na concentração recomendada e quociente de inteligência

O Programa de Toxicologia do National Institute of Health mantido pelo governo dos Estados Unidos da América, divulgou em 21/08/2024, uma revisão sistemática sobre a relação entre a exposição ao fluoreto e os efeitos na saúde cognitiva. As conclusões reafirmaram que a exposição ao fluoreto da água potável na concentração preconizada para prevenção da carie dentária (0,5 a 1,0 mg F/L) é segura e não está associada a menor Quociente de Inteligência ao longo da vida. Os resultados confirmaram que exposições ao fluoreto em níveis considerados impróprios para consumo (≥1,5 mg F/L) estão associados a menor Quociente de Inteligência. Foram incluídos 19 estudos na análise do efeito sob interesse, dos quais 14 eram provenientes da China, Irã e Índia, países que possuem várias áreas endêmicas para fluorose dentária, um problema de saúde pública decorrente de água com teores naturais de fluoreto impróprios para a saúde. Um estudo proveniente do México também foi realizado em área endêmica para fluorose dentária. Isto significa que as populações expostas na maioria dos estudos incluídos (15/19) tinham níveis elevados de fluoreto, enquanto as populações de referência tinham frequentemente acesso à água com níveis de fluoreto próximos do recomendado para prevenção de cárie. Dos quatro estudos restantes, dois utilizaram dados do Canadian Maternal-Infant Research on Environmental Chemicals (MIREC) nos quais as medições foram consideradas inválidas para determinar a associação da fluoretação da água com danos cognitivos. 

O Programa Nacional de Toxicologia tem sido criticado por usar métodos de pesquisa pouco ortodoxos, falta de clareza e análises que falham para seguir critérios de transparência e normas de revisão por pares. Os estudos incluídos utilizaram amostra de fluoreto urinário para avaliar a exposição, apesar do consenso científico de que este não é um biomarcador válido para medir a exposição a longo prazo. Como acontece com todos minerais, há um nível apropriado de consumo que traz benefícios à saúde e um efeito limite a partir do qual excesso de exposição pode ser prejudicial. Os resultados da revisão sistemática não modificam as conclusões do Parecer Técnico-Científico emitido pelo CECOL/USP, em 16/03/2021, para o Conselho Regional de Odontologia do Estado de São Paulo. Embora a revisão sistemática não inclua achados que modifiquem a prática da saúde pública da fluoretação da água, interpretações equivocadas da mídia e de profissionais não especializados no assunto nas redes sociais em busca de notoriedade podem ser utilizadas para angariar atenção do público e contribuir para erodir o apoio à política pública como acontece com os programas de imunização.

O CECOL/USP reitera que fluoretos ocorrem naturalmente em todas as águas utilizadas para consumo humano, variando seus teores em decorrência de características relacionadas aos solos e aos lençóis freáticos. Nas últimas décadas se consolidou o conceito, utilizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde (MS) do Brasil, de que as expressões "água fluoretada" e "fluoretação da água" se referem a águas nas quais os teores de fluoretos foram aferidos e estão em conformidade com o preconizado pela comunidade científica - que oscilam entre 0,5 mgF/L e 1,0 mgF/L. Águas contendo menos do que 0,5 mgF/L são águas que, embora contenham fluoretos, não são consideradas "águas fluoretadas", que produzem efeitos relevantes na saúde das populações, uma vez que não foram objeto da tecnologia reconhecida como "fluoretação da água". Águas com teores de fluoretos acima de 1,0 mgF/L são águas que apresentam risco de produzirem fluorose dentária em crianças a elas expostas. E águas cujos teores de fluoretos se situem acima de 1,5 mgF/L são águas impróprias para consumo humano seguro, e por essa razão, não são recomendadas por autoridades de saúde pública.