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Água com alto teor de fluoretos causa fluorose dentária endêmica em ilha de Cabo Verde
Mais de metade da população de 12 anos de idade da Ilha Brava, em Cabo Verde, apresenta fluorose dentária em grau severo. Mas a anomalia está presente em 100% da população.
A conclusão é da pesquisa de mestrado, defendida na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) pelo médico-dentista Ednilson Delgado.
O resultado do estudo (n=72) foi divulgado pela RTC, Radiotelevisão Caboverdiana, em 11 de fevereiro de 2024, em seu programa "Jornal de Domingo". A matéria intitulada "Estudo revela que excesso de flúor na água potável pode comprometer a estrutura dentária", pode ser vista aqui.
A notícia informa que há na Ilha Brava, localizada no sul do arquipélado caboverdiano, na costa noroeste da África, uma única fonte de abastecimento de água para a população local. Todas as crianças consumiram, "por toda a vida", água proveniente dessa fonte.
O Dr. Ednilson Delgado, entrevistado pela emissora de TV, relatou que a água utilizada pela população da Ilha Brava contém cerca de 6,5 mgF/L.
Como a matéria da TV caboverdiana repercutiu na comunidade internacional de língua portuguesa, o assunto foi analisado na coordenação do CECOL, o Centro Colaborador do Ministério da Saúde em Vigilância da Saúde Bucal, na Universidade de São Paulo (USP).
O coordenador-adjunto do CECOL/USP, prof. dr. Paulo Capel Narvai, elogiou a matéria da TV caboverdiana, que considerou "muito boa" representando um "jornalismo bem-feito, com cuidado editorial e responsabilidade na comunicação social". O professor da Faculdade de Saúde Pública da USP recomendou o vídeo da matéria "para interessados na temática da fluoretação da água", pois segundo ele, "ilustra com um caso localizado, específico, um conhecimento que temos há mais de um século". Para Narvai, "a pesquisa de mestrado do dr. Ednilson tem grande valor ao identificar, no espaço e no tempo, manifestações originais, específicas, do que atualmente se conhece muito bem", assinalando ainda que "foi exatamente pesquisando o fenômeno biológico do que hoje conhecemos como fluorose dentária, que começamos a desenvolver os conhecimentos científicos sobre o papel dos fluoretos na prevenção da cárie dentária e, também, decerto, na prevenção da própria fluorose, em suas duas manifestações mais relevantes, que são as formas de fluorose dentária e fluorose esquelética, ou óssea".
O professor de Saúde Pública da Universidade de São Paulo chamou a atenção para o fato de que, conforme relata o pesquisador caboverdiano, "o estudo detectou a presença de fluoretos na água utilizada na ilha, em concentração de 6,5 mgF/L, altíssima, muito acima do preconizado para consumo humano".
Assinalando que a tecnologia de saúde pública conhecida como 'fluoretação da água', corresponde a manter em águas de abastecimento público, aqui no Brasil (em praticamente todo o território, com algumas poucas exceções), um teor ótimo de 0,7 mgF/L, o professor alertou que a concentração de fluoretos na Ilha Brava é de "mais de nove vezes superior a esse teor ideal" e que "decerto que, em Cabo Verde ou no Brasil, não é essa (6,5mgF/L) a concentração de fluoretos que se propõe para as águas para consumo humano".
Concluiu que "por essa razão, é tão importante seguir o que no Brasil estamos recomendando há tanto tempo: todas as águas, sem exceção, devem ter seu teor de fluoreto conhecido e avaliado por especialistas, antes de ser disponibilizada para consumo humano". Para o professor da FSP/USP, "a tecnologia de fluoretação da água não pode ser reduzida ao ato de adicionar fluoretos na água, nas Estações de Tratamento de Água (ETA), mas considerar todo o processo de obtenção, tratamento e vigilância sanitária da água".